Yogas da Resistência e o Devir-Yoga
Curso onde reuniremos, numa grande roda de conversas, o debate sobre Devir-Yoguico, ou seja, yogas criando soluções criativos a problemas reais.Yogas da Resistência e o Devir-Yoga
- 35 Alunos matriculados
- 03 Horas de duração
- 19 Aulas
- 2 Módulos
- Certificado de conclusão
Obtenha acesso a este e outros cursos
Muitos consideram os yogi(ni)s corajosos, loucos, fortes e até com certo grau de “pureza” e retidão de espírito por realizar posturas e “solidez” mental, devido as duras horas em meditação. Mas sinto informar a todes que yoga não é para corajosos ou loucos, fortalezas em corpos e mentes. Quando ouço (ou leio isso), sinto já de longe o cheiro da lenha sendo ajeitada para acender as fogueiras da inquisição moderna contra os fracos, desajeitados em seus corpos e desajustados mentais.
Essas "coragens" vem mantendo e ordenando yogas-padrão conservados por uma estrutural social meritocrática e do marketing espiritual: no pain, no gain é o mantra destes. É preciso mesmo muita coragem e uma força descomunal para sustentar a perenidade em ler os mesmos livros, assistir as mesmas palestras replicados por saberes institufossilizados.
Este curso deseja um desencorajamento narcísico, de queixos duros e obtusos que sustentam identidades éticas e estéticas de yogas imutáveis, sempre em busca de verdades inabaláveis e valores tradicionais que nunca chegam a todes.
É um curso-roda-de-conversa aos que se cansaram disso. E que já perceberam também que, por baixo das vestes sacerdotais, nomes iniciáticos e das brumas proféticas dos olhares semicerrados e lábios balbuciantes de sutras sem-fim, vive a vida vivida da vida real… Este é o espaço aos yogi(ni)s frágeis e erráticos. Traçaremos aqui cartografias e identificaremos linhas-de-fuga yoguicas para reunir todes a respirar em clareiras nomádicas. Reuniremos todos os "medrosos", os "duvidosos" e "impuros"… aqueles que realizavam asanas errados (lembra?)… Os mesmos que roncavam durante os savasanas sem medo de descansar.
Este é um curso que convidamos também todos aqueles yogi(ni)s um dia fortes, valentes, rijos, tesos, ao mesmo tempo inflexíveis nas ideias, possam requebrar mais e, quem sabe, dançar no precipício onde os yogas realmente acontecem.
Mas o que estamos ampliando aqui o debate, é o saber de fresta dos yogas nascidos de cruzas com singulares coletivos.
Por exemplo, o Darsana-Yoga de Patanjali possui respostas yoguicas para pop. indianas-hinduístas da alta casta védica; a versão Hatha-Yoguica de Goraksa, das castas mais inferiores da mesma cultura indiana, mas foram influenciados por coletivos muçulmanos, budistas e do sikhismo, dentre outras; uma das versões do Kundalini-Yoga, por exemplo, nasce entre yogi(ni)s sikkhis modernos na Índia, mas o Yogaterapia do Prof. Hermógenes de influências, e por aí vai.
Ah, mas todos possuem semelhanças! Claro, são todos yogas e inventados a partir de estratos da realidade yoguica. Qual a essência do yoga é uma pergunta tola. Quais as experiências e encontros em comum, que os diversos yogas produzem, e sobretudo, quais os saberes que advém desses encontros que é uma pergunta que vale a pena ser feita. Não é do quê, mas para que você deseja vivenciar a essência yoguica: liberdade! Um livre-pensador dos Yogas busca conhecer a cartografia onde vive e passa a buscar encontros potentes; encontros que tornem sua vida tesuda de novo de se viver.
Yoga além das formas e do tempo, mas inserido e lido em seus e por seus contextos culturais, sociais, políticos e religiosos que circunscrevem coletivos específicos. Há uma produção de vida acontecendo pelos Yogas com soluções criativas, como disse, a problemas reais. Estes são yogas de resistência, mas por que de resistência?
Denomino de yogas de resistência a todos os movimentos, coletivos e projetos que trabalham em aculturar os yogas em comunidades periféricas do Brasil. Não “levar yoga aos carentes”, mas cruzar sabedorias na busca de soluções criativas a problemas reais. Me refiro aqui há yogi(ni)s que entendem outres corposmentes humanos não somos folhas em branco. Então, alguém que busca inculcar saberes cristãos a povos originários para substituir seus símbolos por outros, é conversão. E tudo bem se alguém buscar esse processo por livre escolha. Mas impor ou subjugá-los, é colonização.
Por outro lado, quando um povo dominante toma pra si os símbolos do dominado e o desloca de contexto, isso é conhecido por apropriação cultural. Entrementes, um determinado coletivo (não dominante ou colonizador) que adapta à sua cultura (sem destituir o contexto religioso ou espiritual p.e.), esse processo é de aculturação. Os yogis indianos fizeram isso com a biomedicina: glândulas se transformaram em chackras, lembra? Os yogas de resistência no Brasil, aqueles que vem aproximando funk carioca na ativação kundalínica, trad. ayahuasqueiras com meditação, saberes do descanso com savasana e práticas de yoga a moradores de rua|dalits... não fazem o mesmo, mas por aqui?
E não é “transmissão de conhecimento sagrado perene e perfeito em si mesmo”, mas diálogo mesmo, troca e cruzas que carregam em si o poder da espiritualidade terapêutica brasileira, característica da antropofagia da nossa cultura aos saberes yoguicos ancestrais transplantadas para as bandas de cá do Atlântico. Isso não descaracteriza o yoga. Pode não afirmar crenças tradicionalistas indianas hinduístas, tântricas, védicas ou dos nathas sampradaya, mas não do yoga. Yoga além das formas. Yoga não moral. Devir-Yoga... é disso que se trata aqui. Yogas de Resistência.
E sim, discutiremos as eventuais deturpações do yoga e apropriações que tornam esse ou aquele yoga só uma ginástica neoliberal do mercado, esse é outro assunto, e para outro ensaio.
A todes yogi(ni)s cansados e dispostos a pensar yogas além das formas.
Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Ciência da Religião pela PUC-SP, possui a sua graduação em Ed.Física e especialização em Psicologia, Fisiologia e Yoga. Após alguns anos estudando e praticando ioga lançou um livro em co-autoria sobre os aspectos neurofisiológicos e espirituais que envolvem o ioga e a sua mais conhecida prática, a meditação.
Após alguns anos trabalhando como voluntário em grupo de estudos de psicobiologia da UNIFESP enveredou para as humanas e a filosofia, investigando por seis anos a religiosidade do ioga brasileiro. No seu mestrado pesquisou a íntima relação que o ioga contemporâneo vem estabelecendo com a ciência biomédica. Essa aproximação - ioga e biomedicina científica - transforma cada vez mais a prática espiritual ioguica mais como técnica terapêutica laica. O seu foco, no entanto, estava nas ressignificações que esse contato surtiu na doutrina do ioga contemporâneo e, em específico, no surgir das escrituras modernas.
O doutorado veio na sequencia, a partir de um problema surgido ao final da sua dissertação. Se a doutrina moderna do ioga havia de ressignificado, qual o impacto disso na proposta antiga de libertação humana (kaivalya)? Desse modo, sai a campo investigando 10 iogues renomados no Brasil e mais 3 cientistas da área biomédica que investigam o ioga como técnica terapêutica.
Entretanto, o grande mote da tese foi evidenciar que o flerte do ioga com a ciência moderna tem reformado os seus preceitos espirituais, como dos klesas em estresse, samadhi em relaxamento-espiritualizado e kaivalya em homestase-eterna.
A repercussão dessa transformação em processo tem conduzido ao ioga contemporâneo desvincular-se do Hinduísmo e da mística Nova Era; como resultado, os iogues mais tradicionalistas reclamam um "retorno à tradição". Seu projeto em andamento (S)sendo Yoga Latino-Americano dá continuidade a essa investigação, agora se preparando para seu pós-doutoramento.
Seu foco de investigação está no ioga contemporâneo com a sociedade latino-americana e suas interface como uma nova espiritualidade autônoma em processo.
Mas o que ele gosta mesmo é estar com a sua família na ilha de Floripa ou viajando com ela, e dialogando com os seus alunos pelas cidades brasileiras e latino-americanas.
Conteúdo Programático
- 1. Primeira Aproximação| Ritornelo dos Yogas Puros vs Mestiços
- 2. Ensaio 1| Ritornelos do Yoga
- 3. Segunda Aproximação| Magia e Yoga
- 4. Ensaio 2| Yoga e seus Planos de Consistência Mágicos
- 5. Terceira Aproximação| Yogi(ni)s Nômades e os yogi(ni)s Sedentários, para além dos maniqueísmos
- 6. Ensaio 3| Yogi(ni)s Nômades aLISAm Yogas Estriados
- 7. Quarta Aproximação| Yoga que Des-Organiza Corposmentes
- 8. Ensaio 4| Aprendendo a ser o cozedor e não o vaso de barro cozido
- 9. Quinta Aproximação| Planos Yoguicos de Consistência Nômades
- 10. Ensaio 5| Planos Yoguicos de Consistência Nômades
- 11. Ensaio 6| As Brasilidades dos Yogas de Resistência
- 12. Sexta Aproximação| Brasilidades yoguicas
- 13. Sétima Aproximação| Decolonização dos Yogas Brasileiros
- 14. Ensaio 7| Decolonização dos Yogas Brasileiros
- 15. 7.1. Texto de Apoio| Trânsito de Símbolos Afro-Indianos no Brasil
- 16. Ensaio 8| Cultura Yoguica Nomádica
- 17. Oitava Aproximação| Cultura Yoguica Nomádica
- 18. Nona Aproximação| Yogas Frágeis
- 19. Ensaio 9| Yogas Frágeis
Cursos Relacionados
Conheça outros cursos que oferecemos para complementar seus estudos.