Yogas e suas Cruzas com Brasilidades

Quais os problemas reais que yogi(ni)s brasileires enfrentaram e as soluções criativas, junto a uma espiritualidade distante como o Yoga, foram realizadas?

Yogas e suas Cruzas com Brasilidades

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Diego
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DO QUE FALA O AUTOR

No que tange ao campo da ciência da religião em seu recorte histórico, há um fenômeno curioso que tem sido analisado por vários autores: a apropriação, por parte de movimentos religiosos, de dados e conceitos das ciências naturais. De fato, essas ciências a partir do sec. XIX adquiriram um estatuto diferenciado no âmbito do conhecimento e no caminho do progresso humano, inclusive o espiritual, e assim muitas correntes de pensamento tiveram de se defrontar com a Ciência de modo ambivalente: quer aceitando, quer rejeitando, a Ciência é em todo caso exaltada no discurso apologético. Além disso, no contexto do colonialismo, soma-se a tendência descrita com o esforço de equiparação com a metrópole. Por fim, a transplantação das práticas para o Ocidente e por ocidentais aponta para o problema para a mudança de significado das concepções tradicionais para serem mais palatáveis à sensibilidade moderna. 

Roberto Simões, na presente obra, recolhe anos de pesquisa a respeito da ressignificação contemporânea de um movimento específico, o do yoga hindu, a partir do fenômeno que agora mencionamos. Ele procura ser abrangente em sua estratégia. Primeiro, percorre o longo caminho do yoga, a partir de seus escritos mais representativos, indicando formas de ressignificação que foram ocorrendo ao longo da história. Em seguida, ao falar do yoga moderno, o autor indica como os principais yogues de fins do sec. XIX e do sec. XX adotaram uma perspectiva sincrética, sugerindo a compatibilidade da fisiologia sutil do yoga tradicional (tão bem descrita pelo autor) com os dados da fisiologia ocidental, dentro do âmbito da Ciência moderna. Tal sincretismo foi acentuado na medida em que o yoga foi se popularizando no Ocidente. Esse tornar-se respeitável perante a modernidade colocou alguns desafios peculiares. Seria necessário “descartar o bebê junto com a água do banho”, ou seja, deixar para trás os elementos místicos da tradição e reduzir o yoga a práticas de bem-estar? Apesar de “religião” ser um conceito Ocidental, poder-se-ia apresenta o yoga também como religioso, e não apenas como parte da medicina? O autor não se furta a essas e outras questões de fundo e, recorrendo a uma extensa bibliografia e a entrevistas com importantes yogues brasileiros, nos apresenta um retrato fiel das circunstâncias onde essas questões se desenvolvem.

Em particular, Roberto discorre sobre os klesas (ignorância, apego, aversão, medo e orgulho) no Yoga tradicional, seu significado original, e a tradução para o conceito ocidental de “estresse”, uma condição tão comum hoje em dia. Assim sendo, no Ocidente em geral e no Brasil em particular, o yoga é apresentado como uma série de práticas e posturas destinadas a reduzir o estresse. Mas terá sido dada a última palavra a respeito? Poderá ainda se manter parte da inspiração do Yoga, que se colocava como uma prática espiritual e até mesmo, em termos modernos, como uma “religião”?

Com um bom conhecimento da fisiologia médica e da história e da sociologia do yoga, o autor se qualifica unicamente a discorrer sobre essas questões. Seu trabalho não resulta somente de sua prática, mas de uma dissertação de mestrado e de uma tese de doutorado na área de Ciência da Religião, onde o praticante de yoga dialogou com o acadêmico para produzir um discurso sobre o yoga que é ao mesmo tempo simpático e objetivo. Leitura obrigatória para aqueles que querem aprofundar seus conhecimentos sobre essa antiga e influente arte Oriental, para além das obras de divulgação existentes em grande número no mercado. Tarefa exigente mas ao mesmo tempo recompensadora, dado o estilo fluente e agradável do autor. 

Prof.Eduardo Rodrigues da Cruz

Doutor em Teologia pela Universidade de Chicago e Professor titular da PUC-SP

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OS KLESAS, SAMADHIS e KAIVALYAS SE CRUZANDO COM BRASILIDADES

No Brasil, provavelmente mais do que em qualquer outro país, uma associação dos klesas com o estresse em consonância com salvação/libertação espiritual pode revelar-se mais nítido e compreensível. Digo isso, pois, entre os brasileiros (mas talvez também em outras geografias e outros líderes yoguicos nativos ou indianos), aliar Yoga como benéfico para a saúde tornou-se bastante conhecido graças ao yoga difundido pelo Prof. Hermógenes e também décadas antes dele, quando uma América Latina, em geral, edificava um yoga sem a influência vigorosa de gurus indianos. Assim, características singulares foram sendo desenvolvidas e erigiram um Yoga latino-americano difuso e inusitado. Mesmo que escassos, estudos brasileiros corroboram essa possível singularidade de um yoga no Brasil. 

Um desses trabalhos, sobre uma formação de yoga entre brasileiros, revelou que estes parecem estar perdendo seus atributos de errância, que caracteriza as espiritualidades Nova Era, pois têm se tornado cada vez mais fiéis (se converterem) ao seu guru, yogue-referência ou professor de formação. O conceito de errância entre o movimento religioso nova era é uma característica bastante investigada. Ela se baseia na ideia de novaeristas não se converterem a um sistema institucional religiosa e migrar entre diversas denominações religiosas/espirituais sem se filiar a nenhuma delas. A cientista Hervie-Leger denominou de peregrinos os adeptos nova era justamente por diferenciar-se dos convertidos

Mas entre alguns yogues brasileiros investigados o papel de convertido ao seu yoga parece estar crescendo mais do que os peregrinos. Além disso, um yoga brasileiro também despertou discussões sobre o seu papel social, seja de terapêutica ou ginástica laicas. 

Um caso curioso aconteceu em meados dos anos 2000 — repetido em 2016 — quando yogues brasileiros precisaram se mobilizar para defender-se contra a tentativa de intervenção do Estado. Instituições governamentais brasileiras pretendiam transformar os yogas em atividade física e, anos mais tarde, classificar yogues em professores ou terapeutas profissionalmente regulamentados. Esses fatos políticos favoreceram alguns yogues a posicionar seu papel social entre os brasileiros. Pesquisas na ciência da religião no país já conseguem afirmar um caráter vivo de sincretismo religioso brasileiro de alguns yogas a algum tipo novo de espiritualidade.

A partir daqui já parece lícito problematizar uma compreensão do papel dos klesas sob o novo panorama social, político e religioso brasileiro. Talvez um impacto soteriológico no transplante yoguico, de uma sociedade estratificada indiana para uma sociedade democrática, secular e privatizada religiosamente como alguns núcleos sociais brasileiros, possa estar fomentando novos discursos religiosos. O Brasil, por seu sincretismo cultural, talvez seja um possível laboratório social para verificar as inovações religiosas de alguns yogues modernos. 

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A todos interessados aos novos mitos e ressingularizações que yogi(ni)s latino-americanos, mas sobretudo, brasileiros desenvolveram criativamente com yogas que entraram em contato desde os anos de 1950. 

Um curso instigante, provocador e real sobre o campo social religioso em que o yoga e seus agentes atuam produzindo crenças, mitos e novos fluxos espirituais.

Prof. Roberto Simões
"PhD. em Ciência da Religião pela PUC-SP. Investiga há mais de uma década o Yoga/Meditação e seu diálogo com a sociedade latino-americana."

           

Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Ciência da Religião pela PUC-SP, possui a sua graduação em Ed.Física e especialização em Psicologia, Fisiologia e Yoga. Após alguns anos estudando e praticando ioga lançou um livro em co-autoria sobre os aspectos neurofisiológicos e espirituais que envolvem o ioga e a sua mais conhecida prática, a meditação.

Após alguns anos trabalhando como voluntário em grupo de estudos de psicobiologia da UNIFESP enveredou para as humanas e a filosofia, investigando por seis anos a religiosidade do ioga brasileiro. No seu mestrado pesquisou a íntima relação que o ioga contemporâneo vem estabelecendo com a ciência biomédica. Essa aproximação - ioga e biomedicina científica - transforma cada vez mais a prática espiritual ioguica mais como técnica terapêutica laica. O seu foco, no entanto, estava nas ressignificações que esse contato surtiu na doutrina do ioga contemporâneo e, em específico, no surgir das escrituras modernas.

doutorado veio na sequencia, a partir de um problema surgido ao final da sua dissertação. Se a doutrina moderna do ioga havia de ressignificado, qual o impacto disso na proposta antiga de libertação humana (kaivalya)? Desse modo, sai a campo investigando 10 iogues renomados no Brasil e mais 3 cientistas da área biomédica que investigam o ioga como técnica terapêutica.

Entretanto, o grande mote da tese foi evidenciar que o flerte do ioga com a ciência moderna tem reformado os seus preceitos espirituais, como dos klesas em estresse, samadhi em relaxamento-espiritualizado e kaivalya em homestase-eterna.

A repercussão dessa transformação em processo tem conduzido ao ioga contemporâneo desvincular-se do Hinduísmo e da mística Nova Era; como resultado, os iogues mais tradicionalistas reclamam um "retorno à tradição". Seu projeto em andamento (S)sendo Yoga Latino-Americano dá continuidade a essa investigação, agora se preparando para seu pós-doutoramento.

Seu foco de investigação está no ioga contemporâneo com a sociedade latino-americana e suas interface como uma nova espiritualidade autônoma em processo.

Mas o que ele gosta mesmo é estar com a sua família na ilha de Floripa ou viajando com ela, e dialogando com os seus alunos pelas cidades brasileiras e latino-americanas.


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Conteúdo Programático

  • 1. Yoga Malandro (aula 1): Por quê?
  • 2. Yoga Malandro (aula 2): Yoga Postural Moderno
  • 1. Yoga Malandro (aula 3): Contextualizando do assunto
  • 2. Yoga Malandro (aula 4): Yoga Antigo (Pré-Patanjali)
  • 3. Yoga Malandro (aula 5): Yoga "Clássico" (Patanjali e o Yoga-Sutras)
  • 4. Yoga Malandro (aula 6): Yoga-Sutras
  • 5. Yoga Malandro (aula 7): Yoga Medieval (parte 1)
  • 6. Yoga Malandro (aula 8): Yoga Medieval (parte 2)
  • 7. Yoga Malandro (aula 9): Yoga Postural Moderno surge
  • 8. Yoga Malandro (aula 10): Yoga Moderno
  • 1. Yoga Malandro (aula 11): A ressingularização do Yoga à luz da Ciência (biomédica ocidental)
  • 2. Yoga Malandro (aula 12): Os klesas sob o prisma moderno
  • 3. Yoga Malandro (aula 13): Os yogues modernos e a linguagem da Ciência
  • 4. Yoga Malandro (aula 14): Filosofia dos Klesas na modernidade
  • 5. Yoga Malandro (aula 15): o estresse na biologia
  • 6. Yoga Malandro (aula 16): Relaxamento
  • 1. Yoga Malandro (aula 17): A "profanação" do yoga pelo(a)s latino-americanos
  • 2. Yoga Malandro (aula 18): Fase 1| místico-esotérica
  • 3. Yoga Malandro (aula 19): Fase 2| vistando yogis indianos
  • 4. Yoga Malandro (aula 20): Fase 3| busca identitária
  • 5. Yoga Malandro (aula 21): Fase 4| híbridos vs tradicionalistas
  • 6. Artigo científico: As raízes do Yoga na América Latina
  • 1. Yoga Malandro (aula 22): Início das entrevistas
  • 2. Yoga Malandro (aula 23): Os Cientistas-Yogui(ni)s
  • 3. Entrevista com a yogini Camila Reitz
  • 4. Entrevista com o yogi Glauco Tavares
  • 5. Entrevista com o yogi Marcos Rojo
  • 6. Entrevista com o yogi Marcos Schultz
  • 7. Entrevista com o yogi André DeRose
  • 8. Entrevista com o yogi Cristóvão de Oliveira
  • 9. Entrevista com os yogis Prof.Hermógenes e Thiago Leão
  • 10. Entrevista com o yogi Mestre DeRose
  • 11. Entrevista com o yogi Pedro Kupfer
  • 12. Entrevista com o a yogini Miila Derzett
  • 13. Entrevista com o yogi Anderson Allegro
  • 14. Entrevista com o yogi e pai-de-santo Alexandre Cumino
  • 15. Entrevista com o cientista Roberto Cardoso
  • 16. Entrevista com o cientista Marcello Árias Danucalov
  • 1. Yoga Marginal (aula 24): Nosso caminho até aqui
  • 2. Yoga Marginal (aula 25): Yoga como nova religião
  • 3. Yoga Malandro (aula 26): Espaço Liminar e Samadhi
  • 4. Yoga Malandro (aula 27): Nova Era e os Yogas
  • 5. Entrevista com Yogi(ni)s da "Quebrada" (parte 1)
  • 6. Entrevista com Yogi(ni)s da "Quebrada" (parte 2)
  • 7. Entrevista com Yogi(ni)s da "Quebrada" (parte 3)
  • 8. Yoga Malandro (aula 28): quem tem o yoga verdadeiro?
  • 9. Yoga Malandro (aula 29): alteridade espiritual
  • 10. Yoga Malandro (aula 30): alienação espiritual
  • 11. Yoga Malandro (aula 31): kaivalya ou libertação espiritual
  • 12. Yoga Malandro (aula 32): mal-estar e as soluções yoguicas
  • 13. Yoga Malandro (aula 33): relaxamento-espiritual
  • 14. Yoga Malandro (aula 34): homeostase-divina
  • 15. Yoga Malandro (aula 35): Yoga com uma vibe brasileira
  • 16. Yoga Malandro (aula 36): kaivalya à brasileira
  • 17. Artigo: Ioga e seus novos bens-de-salvação no Brasil
  • 1. Yoga Malandro (aula 37): concluindo
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