Dividi-se corpos em camadas (mental, emocional, físico, sutil, astral) ou analogias encaixotantes (cavalos, aparelhos, computadores, koshas). Ele nunca está inteiro, mas recortado por órgãos de relevância (fígado se regenera, "sagrado coração de Maria", cérebro como “gerente”) ou sistemas como na fisiologia de glândulas ou dos nadis, chackras e prana. Todo organizado!

Fomos treinados a relegar corpos a segundo plano. Segregamos, queimamos e jogamos à margem social, corpos fora de um padrão abstrato; eles são excluídos em manicômios e classes, educados a se comportar em escolas, castas, empresas e famílias. Nas igrejas (como ashrams e terreiros) são iniciados, benzidos, expurgados, acalmados. Há uma INDÚSTRIA DESIN.CORPO.RATIVA a serviço do 'espírito' bem-estar, estético, espiritual e farmacêutico. Empresas formando {GENTES SEM CORPOS} devotas a abstrações de si-mesmas: não sou um corpo, mas uma alma ou espírito (q precisa se elevar).

E se, só por um instante, você não habitasse um, mas se compreendesse CORPO realmente?

Faça esse experimento em casa: você um corpo encontrando corpos em intensa relação, gestando ideias de seus atravessamentos. Sua “mente”, “consciência”, "alma", "purusa", "Eu-maior," menor, ego, Id, Super-ego, todas apenas ideias corporais agindo em gentes desincorporadas: o clichê massa-de-manobra cai muito bem. O que você imagina sendo estável, perene, imutável, {{isso ou aquilo}} q não muda, apenas fantasias, delírios, MAYAS atualizados por especialistas subordinados aos q se beneficiam da opressão.

Afinal, não tenho sangue-azul, sou latina, me visto mal, como de boca cheia, ando rebolando, levo os cotovelos à mesa, não sei plantar bananeira, mas trabalho para nobres, brancos e bem vestidos: 'negro com alma de branco'. Eu mudo e tenho curvas, eles não, são [retos]. O que não muda em você é essa confiança imbecil que nunca morrerá se não obedecer. Observe o quão difícil se compreender mortal, um corpo em transformação; mas de onde vem esse medo em deixar-se SER um corpo selvagem e nômade em DEVIR na busca do não-Ser?

Esse curso-ensaio pretende abrir diálogo com a filosofia do corpo, mais do que isso, com corpos-filósofes criadores de signos antes de se tornarem palavras, pois não é todo pensamento é consciente, racional e lógico, há muitos pensamentos, emoções e sentimentos inconscientes, mas que ainda assim, pensam corporalmente - e há outro jeito? A mente, essa ideia do corpo, não age sozinha, ela está incorporada, como nossas memórias e cognição. Mais simples, você não habita um corpo, mas é um corpo.

Corpos indóceis, são nômades e vamos juntes aqui, aprender a criar um corpo selvagem que não se deixará domesticar pelos aparelhos-de-captura. Mas não é uma empreitada solo, mas um projeto coletivo e solidário!

O curso Corpo Indócil é, antes de tudo, sobre Ética. E para falar se ética, é preciso, antes, ter um corpo. Sim, você tem,

mas ele está livre ou docilizado?

Podemos dividir em três tipos de corpos e seus afectos. Primeiro temos os Escravizados; impossibilitados a desejar por si, passam a ser e agir em função de outro corpo. Aí entram os Tiranos, os q exploram paixões tristes; por isso, agem escravizando corpos dóceis.

Mas por que um corpo permite ser escravizado por outro? É pura ingenuidade, ignorância, desatenção? Sim, mas antes, é preciso diminuir suas potências em Ser e agir. Aí entra o Sacertode(isa). Estes, vivem rebaixando todo e qualquer movimento

de corpos em direção a liberdade.

O tirano precisa da tristeza para triunfar, e os corpos tristes do seu tirano favorito para os prover de afetos que não conseguem estabelecer sozinhos, pois escravizados.

Mas é da natureza dos corpos buscar alegrias e não tristezas; por isso, existem os sacerdotes para entristecer|docilizar corpos. Essa é a trindade moral: escravos, tiranos e sacerdotes.

O primeiro movimento do curso será (re)conhecer a natureza dos corpos - ao invés de ‘mindset', propomos o {CorpoSet}: entender a disposição psicorporal de uma pessoa a determinados comportamentos para, então, propor e desenvolver uma nova cartografia dos afetos em que vibre alegrias dos encontros. Trata-se de uma visão coletiva, o que faz todo o sentido.

Tudo isso para enfatizar que você é naturalmente belo(a), perfeite, plene e maravilhose. O difícil são os encontros que vem estabelecendo distraidamente com tiranos e sacerdotes.

A arte da vida boa é estar atento aos bons e maus encontros. Mas como sei se este ou aquele corpo vai compor, ou não comigo? Você não saberá até estabelecer uma afecção com ele.

As afecções compositivas aumentam a sua alegria: seu corpo|mente estará mais potente em agir e Ser. E as decompositivas, o oposto, tristeza: você se sentirá menos potente em Ser e agir.

Meditar ou Yogar, portanto, não produz conhecimento, mas alianças no agenciamento de encontros que estão acontecendo agora.

Sei que pode parecer redundante falar de corpo no yoga, pois parece ao comum que todo yogar atual tem (ou está) num excesso de corpo.

Mas afirmo que não, há um excesso de mentalidades; e aqui incluo todos os yogamentos 'tradicionais', pois mesmo os conservadores estão vivendo no séc.XXI, por isso, vivendo o agora no tempo e espaço.

E mais, raros são yogins/meditantes que vivem suas éticas calcadas numa filosofia incorporada; a hegemonia orbita ainda sob delírios como dominar corpos e desintoxicá-los numa paranoia similar a eugenia e embranquecimento do BR.

Yogins não pertencem a uma casta, não sei se me faço claro ainda.

Corpo Indócil é um convite à filosofia do corpo no yoga, talvez um chamado, quase uma convocação a você, yogin, praticante, professor de yoga/meditação a voltar a sentir seu corpo: BodySet ou invés de MindSet.

Te espero do outro lado.

Abs e boa jornada,

Roberto Simões